"A vida começa aos 50 anos", afirma Cris Leite, 49 anos, modelo. Após sofrer um acidente que resultou em 11 fraturas no crânio, a ex-implantodontista se viu motivada a mudar de carreira e se dedicar à arte, área que queria seguir na adolescência.

O episódio aconteceu no final de 2019, no Shopping Bourbon, em Perdizes, zona oeste de São Paulo. Cris tinha combinado de encontrar uma amiga e, enquanto aguardava, um homem tropeçou atrás dela na escada rolante. "Eu fui como um colchão para ele, não consegui segurar e bati com a cara nos degraus", explica. O shopping prestou socorro e a levou para o Hospital Santa Casa de São Paulo, onde, sem documentos, ela chegou como indigente.

Cris conta que ficou desaparecida por 19 horas. "Ninguém sabia onde eu estava, porque fiquei desacordada." Por sorte, seu telefone ainda tinha um pouco de bateria, e uma faxineira do hospital conseguiu atender às ligações de sua irmã que ao saber da situação, a procurou de maca em maca até encontrá-la.

Foram dez dias em coma na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e mais 20 dias de acompanhamento no hospital. Com a alta, recebeu cuidados por mais um mês na casa de sua mãe, onde passou a maior parte do tempo dormindo devido aos efeitos dos analgésicos que tomava para a dor. No total, foram seis meses de recuperação, que incluiu fisioterapia e andar de cadeira de rodas e muleta.

Mudança de chave

Eu entendi esse acidente como um chamado para resgatar a minha vida. Mas não para resgatar e continuar fazendo a mesma coisa. Pensei 'eu preciso voltar para a minha essência, ser o que eu sempre quis ser'.Cris Leite

Os movimentos de Cris melhoraram e, recuperada, ela voltou a trabalhar como dentista. Entretanto, confessa que não se sentia mais feliz. "Eu entrei em depressão." Apesar de considerar a odontologia uma "profissão maravilhosa", se sentia enjaulada. Já a arte, para ela, é algo gigante, em que pode experimentar várias e diferentes frentes.

"Eu sou da arte, sou do cinema, do teatro, da foto, da expressão, da representação, do público", afirma. Ela conta que, quando mais nova, cantou e se apresentou com bandas musicais, fez show para mais de mil pessoas e participou de dois curta-metragens. A arte foi esquecida por um tempo quando, por pressão do seu pai, a carreira de dentista se firmou como uma opção mais rentável.

Durante os 25 anos de profissão, ela conta que pensou em mudar de atividade algumas vezes, mas tinha medo. "Eu falava 'eu tenho filha, já estudei, estou aqui então vamos aqui mesmo'", diz. A situação mudou quando eventos de crise de ansiedade e crise do pânico se tornaram frequentes, ao ponto de ela achar que sofreria um infarto por estresse. Para se consolidar na odontologia, trabalhava até três turnos por dia em sua clínica, além de estudar e participar de congressos.

Mas o receio de arriscar não a paralisou. "Eu comecei a observar a mídia está valorizando e dando chance para mulheres de 50 anos", explica Cris. Por conta própria, procurou uma agência de modelos em Campinas (SP) e, com os trabalhos, rapidamente foi para São Paulo e começou a despontar em comerciais. "Foi tudo muito rápido." Hoje, ela faz parte do "casting" (seleção) da Ford Models, uma das agências mais famosas do Brasil e do mundo, e do elenco de "Rodeio Rock", filme que ainda será lançado e conta com Carla Diaz e Lucas Lucco no elenco.

Superação

Além do trabalho como modelo, Cris dá palestras para empresas sobre ressignificação, recomeços e autocuidado. Ela conta que recebe feedbacks em suas redes sociais, principalmente de mulheres, que também estão em processo de mudança de profissão e de deixar crescer o cabelo branco.

Não é necessário ocorrer uma tragédia na vida para recomeçar. A gente pode ter uma mudança a qualquer momento. A vida não acaba aos 50. Cris Leite